quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Jorge Luís Borges

Nuvens (II)

Pelo ar andam plácidas montanhas,
Trágicas cordilheiras de penumbra
Que escurecem o Sol. Quem as vislumbra
Chama-lhes nuvens. As formas são estranhas.
Shakespeare observou uma. Era igual
A um dragão. Tal nuvem de uma tarde
Na sua fala resplandece e arde
E ainda hoje a vemos, afinal.
Que são as nuvens? Uma arquitectura
Do acaso? É Deus que delas necessita
Talvez para executar a Sua infinita
Obra e são fios dessa trama obscura.
Uma nuvem talvez seja tão vã
Como o homem que a vê nesta manhã.

Jorge Luis Borges

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