segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dias com Árvores

É contado por Píndaro a este propósito que chegando Alexandre - o Grande - à cidade do filósofo pediu que o levassem até ele pois dele conhecia as ideias e admirava-as. Com a sua imponente comitiva (como lembra Maquiavel: o poder naqueles tempos avaliava-se pela poeira levantada pelos acompanhantes de um homem), Alexandre, o Grande, deparou com Diógenes sentado no chão, exercendo, absorto, a sua preguiça. Depois de uma pausa solene, e saindo do meio dos seus subservientes acompanhantes, Alexandre dirigiu-se a Diógenes e proclamou:
- Estás perante o grande Alexandre; o que lhe tens a dizer?
Diógenes, o filósofo, olhou para Alexandre, o Grande, e respondeu:
- Não se importa de se desviar um pouco. É que me está a tapar o sol.
(...)
Descia Mercatore umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, costas contra a parede, a comer lentilhas.
Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava e pelo estômago farto, Mercatore disse, para Diógenes:
- Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas.
E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com maior arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora? Um simples homem rico?
Diógenes respondeu. À letra:
- E tu – disse o filósofo – se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisavas de bajular o rei.

Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas (Campo das Letras, 2005)


via

http://dias-com-arvores.blogspot.com/

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